domingo, 4 de outubro de 2009

Clubes de leitura

O jornal O Estado de São Paulo publicou hoje matéria que trata do tema do nosso blogue:o amor, a paixão pela leitura e o estímulo. Lindo saber que existem iniciativas como essa no interior do Estado de São Paulo e que vêm desde o século XIX.
Quem quiser ler a matéria na íntegra (com fotos) basta clicar aqui


Gabinetes de leitura ainda resistem

Sorocaba e Jundiaí têm os últimos precursores
das bibliotecas municipais,

que funcionam como clubes literários


Vitor Hugo Brandalise


Em duas cidades do interior do Estado resistem os últimos remanescentes de estrutura típica do Império: os gabinetes de leitura, precursores das bibliotecas municipais, existentes em São Paulo, hoje, apenas em Sorocaba e Jundiaí. Fundados pelas comunidades locais num tempo de pouco incentivo oficial à educação e leitura, os gabinetes funcionam exatamente como clubes sociais - com a diferença de que, em vez de salão de baile, piscina e restaurante, os sócios têm direito a livros, jornais e documentos históricos, cujos primeiros exemplares datam de até dois séculos atrás. Na eterna luta entre tradição e mudança, ao menos nesses locais, a primeira leva a melhor.

Desconhecidos até de moradores das cidades onde estão localizados, os centenários gabinetes - o de Sorocaba foi fundado em 1866 e o de Jundiaí, em 1908 - são últimos representantes da primeira "política cultural" do Estado, implementada em cidades ao longo do eixo ferroviário. "Servem como faróis, a indicar pontos luminosos no mapa do fim do Império. Aparecem em cidades recém-desenvolvidas", explica a historiadora Ana Luiza Martins, autora de pesquisa sobre o tema, que deve virar livro no ano que vem. "Como educação não era prioridade, os gabinetes tiveram também função de escola. A sociedade supria lacunas do governo da época." Entre 1840 e 1889, 17 gabinetes de leitura existiram no Estado, mas desapareceram à medida que o governo republicano investia em educação e construía bibliotecas públicas.

O funcionamento dos atuais gabinetes é o mesmo de clubes sociais: com pagamento de mensalidade (R$ 14, em Sorocaba; R$ 30, em Jundiaí), os sócios têm acesso a assinaturas de revistas (mais de 40 em cada gabinete) e jornais, internet, CDs e DVDs, além de acervo literário em constante renovação (hoje, são 35 mil livros em Sorocaba e 70 mil em Jundiaí). Os sócios também têm direito - eis o ponto-chave - a pedir a compra dos livros que querem. "Os mais pedidos são comprados, para valer a vontade dos sócios", diz o presidente do Gabinete de Leitura Sorocabano, Jardel Pegorete. Entre 20 e 40 títulos são comprados por mês.

Uma pasta no balcão da biblioteca do gabinete sorocabano mostra as indicações dos sócios - o primeiro da lista, a ser comprado no mês que vem, é O Jogo da Amarelinha, de Julio Cortázar. "Esse livro deve custar o quê? R$ 60? Pago R$ 14 por mês e pego quantos quiser", diz a técnica em saúde Aline Moraes, de 23 anos.

A mescla de obras antigas - livros do século 18, acervo de jornais locais a partir do século 19, além de documentos com assinatura de personalidades como d. Pedro II e Santos Dumont - com livros recentes é marca dos gabinetes. No espaço infantil do Gabinete de Leitura Ruy Barbosa, em Jundiaí, se encontram a série atual Goosebumps e quadrinhos de Flash Gordon e Tarzan, originais da década de 1930. "A criança aprende a valorizar e comparar as edições", diz o diretor do gabinete, João Antônio Biron.

Nos dois casos, a maior parte dos sócios (entre 70% e 80%) é de pessoas com mais de 60 anos - o restante é formado por pesquisadores e jovens, interessados nas assinaturas dos periódicos. Em Sorocaba, há 750 sócios e, em Jundiaí, 560. Na década de 1970, nos dois gabinetes, o número de sócios chegava a 2 mil. Em Sorocaba, para atrair sócios mais jovens, regras antigas foram flexibilizadas (desde 2005, é possível entrar de bermuda e chinelos) e houve aquisições de computadores. Em Jundiaí, a diretoria aposta na compra de livros. "Somos um gabinete de leitura. Vamos investir no que temos de melhor", afirma o presidente do gabinete, Flávio Buzaneli Júnior.

Outro gabinete de leitura sobrevivente no Estado, mas mantido pela prefeitura, é o de Rio Claro - sua direção defende a municipalização para "democratizar o acesso a obras raras".

Gabinete de Leitura Sorocabano: Praça Cel. Fernando Prestes, 21, Sorocaba; (15) 3232-0768

Gabinete de Leitura Ruy Barbosa: Rua Candido Rodrigues, 301, Jundiaí; (11) 4521-6204

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