sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Sons do Norte

Acaba de acontecer. O zelador veio aqui com um empreiteiro que nunca ví antes, para fazer um orçamento de vedação de janelas para o prédio. Tocaram a campanhia, atendi, e os dois homens entraram. Quando estavam saindo, o tal empreiteiro, comentou "Poxa, você fica aqui sozinha, com a casa toda em silêncio. Não se sente sozinha?" Apenas desviei o olho para o livro "Dois Irmãos", do Milton Hatoum que estou devorando desde ontem, e que havia deixado na mesinha de centro para atendê-los, e respondi: "Mas eu não estou sozinha, meu senhor. Tenho boa companhia..." Inconformado, ele ainda insistiu: " Mas o silêncio não te incomoda?" Respondi apenas, estou com toda a barulheira do mercado de Manaus de uns 30 anos atrás em meus ouvidos, ou o ruído das águas contra o casco de um barco que corta os igarapés da região. Não preciso de mais nenhum som." E então, o tal empreiteiro, perturbado, pediu licença para tocar no livro. Revirou-o um pouco, meio sem jeito, deu uma folheada, e me disse, com a voz diferente: "Sabe, moça, nasci práqueles lados, e o jeito que a senhora falou me fez sentir saudade".
Foi uma pena. Gostaria de ter podido dar meu exemplar para esse homem... Mas não custa sonhar que, saindo daqui, ele procure comprar esse livro tão lindo.

3 comentários:

Petê Rissatti disse...

Naninha, que delícia sua experiência. Tocar alguém com nosso texto ou com nosso esforço é sempre tão bom... e tenho certeza que o moço está a procura de Hatoum agora.

Beijão

MALU, SIMPLES ASSIM disse...

Esse livro é o máximo mesmo! Adorei a história e estou aqui torcendo para o empreiteiro se interessar pela história também!
Abraços.

Claudia disse...

Que legal, Nana.
Essas experiências são tão gratificantes para quem ama a leitura, né. Parabéns pelo jeito que você conduziu a situação.
Um beijão, Clau*